quinta-feira, 14 de julho de 2011

Mixtape: músicas de protesto

O protesto e a crítica são a base do DNA do rock. Enquanto nos anos 1950 o estilo era apenas ingênua diversão, na década seguinte as composições tornaram-se mais inteligentes e maduras ao tratar de problemas sociais e diferenças culturais que aconteciam principalmente nos Estados Unidos, que enfretava uma de suas maiores guerras em contraste com o movimento hippie pacifista. No Brasil também surgiram inúmeras canções de protesto contra a ditadura militar, quase sempre disfarçadas por metáforas e figuras de linguagem para não serem vetadas pelo governo. Música de protesto é uma lacuna vazia no cenário atual, mas o segmento não foi esquecido. Pelo contrário, boa parte das faixas reunidas aqui continuam atual e ainda são necessárias e soam revolucionárias.

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1. The Clash - White Riot

Em 1976, um conflito entre jovens negros e policiais no carnaval de Notting Hill levou 100 policiais ao hospital. Tudo começou quando um oficial tentou prender um jovem negro, defendendo-se de prisões arbitrárias, os negros começaram a atirar pedras, pedaços de pau e o que mais aparecesse nos policiais. Joe Strummer e o baixista do Clash Paul Simonon estavam no meio da multidão. Strummer juntou-se a Mick Jones e escreveu essa marcha intensa que se tornou o primeiro single da banda. O primeiro passo para o Clash se tornar a banda punk mais politizada de sua época.

Clique e veja vídeo da revolta do carnaval de Notting Hill

2. Sex Pistols - Anarchy In The UK

Ouvindo apenas os primeiros versos, onde Johnny Rotten raivosamente se declara um anticristo e um anarquista, já se pode ter uma noção da força de ''Anarchy In The UK''. No final, ele ainda convocava: ''Fique putos/Destruam!''. Um verdadeiro chamado pra guerra. A EMI recolheu o single de ''Anarchy...'' e rompeu com os Pistols, o que aumentou ainda mais a sua fama de anarquista dos rapazes. Rotten disse em 1977: ''Eu não entendo, tudo o que estávamos tentando fazer era destruir tudo''.

3. The Rolling Stones - Street Fighting Man

Tudo começou depois de Mick Jagger ter participado de um protesto anti-guerra em frente à embaixada americana em Londres, que foi respondido com violência por parte da polícia. A canção mais politizada dos Stones foi registrada em um gravador de fita cassete. ''Street Fighting Man'' já foi reverenciada com um cover por uma diversa gama de artistas, de Rod Stewart à Rage Against The Machine, de Oasis à Ramones. Além disso, serviu de insparação para ''I´m Free'', do The Who, segundo o próprio guitarrista Pete Townshend.

4. Capital Inicial - Veraneio Vascaína

''Veraneio Vascaína'' é originalmente do Aborto Elétrico, banda que contava com Renato Russo e o baixista Flávio Lemos, que passou a integrar o Capital Inicial. A letra faz um discurso ácido e direto à polícia, chamando os policiais de ''tarados; assassinos armados uniformizados''. A venda do LP para menores de dezoito anos e a excução pública da tal faixa foram proibidas. Ainda atual, ''Veraneio Vascaína'' é peça fundamental na set list da banda brasiliense.

5. Patti Smith - People Have The Power

A rainha do punk é conhecida pelo rock nervoso e crítico de seu disco de estréia, o grande clássico Horses. Dream Of Life é o álbum mais comercial de Patti Smith, mas não menos ácido que os demais. ''People Have The Power'' foi um sucesso nas discotecas do mundo inteiro, mas a seus versos sobre o poder do povo ainda continuavam firme e fortes. O protesto nunca foi tão dançante e divertido.

6. James Brown - Say It Loud - I´m And I´m Proud

James Brown começou a envolver-se na política com um show em Boston um dia após a morte de Martin Luther King, que com sua mensagem de não violência e orgulho negro evitou uma revolta na cidade. Brown foi convidado pelo presidente à ir para Washington e fazer um show beneficente, o que aumentou a ligação do músico com a comunidade negra e vice-versa. Assim surgiu não só um grande hit (a faixa chegou ao topo das paradas de R&B), mas também um dos maiores hinos do movimento black power. Apesar de estar classificada como funk, está incluída na lista das 500 músicas que moldaram o rock, feita pelo Rock N´ Roll Hall Of Fame.

7. Aretha Franklin - Respect

A versão original de Otis Reading tem o seu charme, mas a versão de Aretha Franklin é definitiva. Aretha entrou no estúdio nova iorquino da Atlantic no dia dos namorados e saiu de lá com o seu primeiro sucesso a chegar no primeiro lugar das paradas. Inspirada pelo seu conturbado casamento, a rainha da soul music deu um novo sentido à música. Cantando de uma posição superior com sua voz ameaçadora e amparada pelos backing vocals das irmãs Erma e Kandy, Aretha exigia respeito do sexo oposto neste clássico que caiu no gosto dos movimentos feministas dos anos 1960.

8. Crosby, Stills, Nash & Young - Ohio

Em 4 de maio de 1970, a Guarda Nacional matou quatro estudantes que manifestavam contra a guerra do Vietnã na Kent State University, em Ohio. Após ver fotos da tragédia, Neil Young escreveu os versos escancarados que evocam o horror do incidente atribuiam a culpa das mortes ao presidente americano Richard Nixon, ''a coisa mais corajosa que eu já ouvi'', disse David Crosby, que teria ''chorado quando acabamos o take'', segundo Neil Young. Além do grande sucesso, ultrapassando outro hit do grupo, ''Teach You Children'', ''Ohio'' transformou os quatro rapazes em porta-vozes da contra cultura, posição que eles desfrutaram por décadas.

9. Bob Dylan - The Times They Are A-Changin´

''Eu queria escrever um grande música, com versos curtos e consisos que se juntassem de uma forma hipnótica'', contou Dylan sobre a sua primeira canção de protesto. O renomado crítico musical Michael Gray a chamou de ''arquétipo de música de protesto''. Foi lançada dois meses após o assassinato do presidente John F. Kennedy, cristalizando com perfeição uma época de mudanças e incertezas.

10. Marvin Gaye - What´s Going On

A morte de sua parceira musical, Tammy Terrel, foi o estopim para Marvin Gaye. Depois da tragédia, ele passou por um período de reclusão, onde refletiu sobre os problemas do mundo e sobre a sua música, que considerava descartável e irrelevante em frente aos tempos de mudanças que os EUA passava. ''What´s Going On'', apesar da suave base jazzística, era carregada de magoas, frustrações e melancolia, direcionadas principalmente à guerra do Vietnã, capturada na primeira estrofe, quando fala de seu irmão mais novo que lutava na guerra. O presidente da Motown não quis lançar como single afirmando que não tinha apelo comercial, mas por protesto de Gaye, lançou e a canção chegou ao topo das paradas e foi elogiada pelo pública e crítica.

11. Country Joe & The Fish - Feel-Like-I´m-Fixing-To-Die-Rag

Bastaram apenas trinta minutos para Country Joe McDonald escrevesse a letra da mais irônica música de protesto já feita. Desde o ritmo acelerado e simples composto apenas dos acordes do violão até o refrão comemorando a morte (''Oba! Nós vamos todos morrer''). O álbum terminava com sons de tiros e uma grande explosão no final, mas a performance ao vivo em Woodstock com toda a multidão cantando essa grande sátira a guerra do Vietnã e ao costume americano de glorificar a morte é um dos momentos mais icônicos da história do rock.

12. Gil Scott-Heron - The Revolution Will Not Be Televised

A primeira versão de ''Revolution Will Not Be Televised'' traz Gil Scott-Heron recitando o seu poema acompanhado por congas e bombos na introdução do seu disco de estréia, mas o impacto almejado só veio no disco seguinte, Pieces Of A Man, onde a música recebeu uma estontante base soul regida por uma flauta e com o vocal cru e feroz de Scott-Heron que antecipou o rap por mais de uma década.

13. U2 - Sunday Bloody Sunday

The Edge estava deprimido e duvidava até das suas habilidades como compositor após uma briga com a sua namorada. O guitarrista canalizou tudo o que vinha sentindo e escreveu ''Sunday Bloody Sunday'', sobre o Domingo Sangreto, quando tropas inglesas atiraram em manifestantes católicos dos direitos civis. Mas o baterista Larry Mullen, que criou a cativante batida militar, disse que não é uma música para lembrar do incidente, e sim a maneira mais forte de dizer ''Por quanto tempo vamos ter que viver com isso?''.

14. Black Sabbath - War Pigs

A primeira versão de ''War Pigs'' tinha letra e título diferentes dos que conhecemos hoje. A Warner achou a música ''muito satânica'', então o Sabbath resolveu transformá-la num protesto contra ''esses políticos ricos que começam todas as guerras em seu benefício e mandam essas pobres pessoas morrerem para eles''. A banda tentou batizar o disco com o nome da música, mas a gravadora mais uma vez vetou, assim como uma capa com um demônio empunhando uma espada, mas ''War Pigs'' continua sendo um dos maiores clássicos do protesto - e do Black Sabbath, que a tocou em todos os shows desde então.

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